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Entrevista com Kyo na TATTOO TRIBAL vol.54



Entrevista por Yukinobu Hasegawa

DIR EN GREY, uma banda de rock que é popular não apenas no Japão, mas também na Europa e América. A visão de mundo peculiar desenvolvida por eles através da música é uma mistura de uma tensão penetrante e motivação constante, que leva aos limites extremos de sentido. Kyo é visto como um vocalista louco e genuíno.

Gravado em seu corpo estão loucuras relacionadas a suas letras e beleza.
Suas tatuagens também mostram Wabisabi (expressão usada para definir a beleza que mora nas coisas imperfeitas e incompletas).


Sobre os sentimentos e visão de mundo representadas no novo mini álbum.


- Lançado em 3 de abril o mini álbum intitulado "THE UNRAVELING" foi gravado em meados de 2012, na época em que a banda tinha anunciado o hiatos. Ouvi dizer que a principio, no intuito de verificar as condições / progresso da recuperação das cordas vocais do Kyo, havia um plano de fazer músicas melódicas e vocês começaram a fazer regravações de músicas antigas da banda. Você escolheu algumas das músicas como candidatas para serem regravadas?

Kyo - Então... Acredito que tenha sido antes do lançamento do DUM SPIRO SPERO, quando fizemos uma turnê no exterior. Não me lembro exatamente quando, mas eu queria regravar a THE FINAL e lançá-la em um álbum, eu vinha falando isso já há alguns anos. Então, nós fizemos a THE FINAL, em seguida, Kasumi que também foi escolhida por mim.


- Regravações também carregam o sentindo de reviver músicas que não são tocadas constantemente. No entanto, THE FINAL é uma música que frequentemente é incluída em setlists recentes. Por que refazer e regravar esta música?

Kyo - Porque é uma música que eu sempre quero cantar. Eu adoro a melodia e a letra, no entanto se eu ouvir a versão original, as letras têm várias nuances desnecessários. Não é como se eu odiasse isso, mas por um bom tempo eu vinha sentindo que iria gostar de regravá-la. Para mim a música se tornou velha, ela difere dos meus sentimentos atuais e a forma de expressão também é diferente, de modo que se torna difícil toca-la. Além disso, nós queríamos regravá-la com o som do DIR EN GREY atual. Os arranjos feitos para as músicas quando tocadas ao vivo, tudo bem... há também outras músicas que fizemos no passado que eram boas, mas se elas não puderem ter um som apropriado para nós atualmente, eu pessoalmente não gostaria de tocá-las.


- Eu realmente gosto de Kasumi desde que ela foi lançada, ela funde melodia harmoniosa, letras e sons pesados, para mim ela foi uma das primeiras músicas do DIR EN GREY (que ouvi). Pessoalmente, eu estou muito feliz que você deu vida a ela novamente. Qual é a sua atitude/sentimento para com essa música?

Kyo - Eu acho que é uma música onde a atmosfera de Kyoto, local onde eu nasci e cresci, está bem colocada. Minha forma japonesa de ver o mundo e a expressão de palavras também estão inseridas nela. Apesar de que a regravação a estava tornando melhor, o arranjo ou composição da música original quase não mudou. Mas retiramos algumas partes desnecessárias e acrescentamos algumas partes novas, isso também era algo que eu pessoalmente queria fazer.


- Ao ouvir a música, eu fui sobrecarregado pelas letras repletas de tristeza. As outras regravações foram sugestões dos outros membros?

Kyo - Kasumi, Karasu e THE FINAL foram sugestões minhas, o resto foram sugestões dos outros.


- E a MACABRE da edição especial sobre encomenda?

Kyo - Quando surgiu a conversa que eu queria adicionar mais uma visão de mundo, a MACABRE apareceu de forma natural. Ela foi a última que resolvemos incluir e também a última na qual trabalhamos.


- Quando você está fazendo as regravações, você não reler as letras ou ouve a música original realmente, certo? Mas desta vez há muitas partes que são fieis as letras e melodias originais. A maneira como você abordou essas regravações foi diferente?

Kyo - Não é que a minha atitude em relação as regravações feitas até agora seja diferente, mas ainda assim eu queria manter as partes boas da música, como a visão de mundo que naquela época era importante para mim ou a maneira de expressar. Isso é algo diferente das músicas que regravamos antes e aquelas que fizemos agora. Desta vez eu também não ouvi as músicas originais, mas eu li as letras do MACABRE. Já se passou bastante tempo. A MACABRE tem uma visão de mundo que eu não seria capaz de escrever agora, o sentimento de querer criar ou expressar coisas novas era mais forte, eu também tinha esses sentimentos/emoções que eu valorizo e quero preservar. Acredito que esse equilíbrio também é diferente das outras regravações que fizemos antes, dessa vez a atmosfera da música original pode ser sentida.


- Além disso, unicamente através das músicas em que a língua japonesa é valorizada, eu sinto que a identidade do Kyo é inserida de forma grandiosa.

Kyo - Tanto na língua japonesa quanto na forma de expressão, com apenas uma palavra o fluxo muda muito, torna-se abstrato, eu acho que isso é extremamente profundo. Simplesmente, por não conseguir criar as nuances que eu quero usando outras línguas, então eu prefiro usar principalmente a língua a qual eu consigo entender plenamente. Esta maneira de pensar se tornou mais forte do que era no passado.


- A nova música "Unraveling" foi criada após as regravações?

Kyo - Foi quando todas as músicas, incluindo as do single anterior "RINKAKU" foram concluídas. Sendo assim, não consigo lembrar a ordem correta, para mim todas elas são músicas velhas (Risos).


- Então você está dizendo que as gravações das músicas foram feitas por volta de maio de 2012? Levando em conta que essa foi a época em que o médico lhe aconselhou a cantar apenas duas horas por dia. Você não deu ouvidos e cantou dando tudo de si? (Risos)

Kyo - Eu pareço o tipo de pessoa que dá ouvidos aos outros? (Risos) Mesmo assim (mesmo ele não sendo esse tipo de pessoa) minha garganta ainda estava se recuperando então o tempo de gravação era curto. Eu acreditava que regravar as músicas seria fácil, mas na verdade foi o oposto, foi bastante difícil. Quando eu tentei... bem não é muito diferente de criar um álbum novo completo. Destruir aquilo que já existe, inserir os sentimentos atuais, isso demorou pra porra. Mas se não valesse a pena nós não faríamos (risos).


- Em shows, você improvisa bastante em relação a melodia e letras, mas nas regravações deste lançamento onde o seu ideal é projetado de forma mais ampla, você está pensando em reviver algumas músicas nessa turnê que estará começando em abril?

Kyo - Provavelmente. Agora, mesmo se eu tocar uma dessas músicas, ela seria uma música totalmente diferente, por isso o sentimento é de "isso é isso e aquilo é aquilo" (risos). Para mim, a postura para com a música e show não muda. A música também, ela simplesmente assume a minha forma naquele momento, se tornando parte de mim. Eu quero que ela seja algo que esteja sempre vivo.


- Uhh, este tipo de movimento é emocionalmente intenso. Gostaria também de perguntar sobre as suas tatuagens. É de conhecimento geral que a sua primeira tatuagem foi a borboleta azul no seu braço, correto?

Kyo - Sim, ela foi a primeira. Eu a fiz logo após o lançamento do MACABRE, há 12-13 anos, na época em que eu tive problemas com meu ouvido durante a turnê daquele ano. Ela não carregava nenhum significado ou razão.


- Por causa da sua surdez repentina até mesmo alguns shows foram adiados.

Kyo - Sim. E nessa época eu também coloquei vários piercings no rosto.


- Por isso que quando vocês voltaram a fazer shows, após o anuncio da sua surdez, eu fiquei bastante surpreso com a figura com tatuagens e piercings no centro do palco. Há muitas pessoas que fazem tatuagens com o intuito de ser diferentes, superar algo ou com um significado muito forte. Há algo do tipo no seu caso?

Kyo - Para mim não há nada. Eu queria fazer uma tatuagem, então eu fiz (risos). Algo simples assim. Se não houver um significado não faz sentido ou é impossível fazer uma tatuagem? Bem, Você não pode removê-la, dói bastante, então é normal que as pessoas atribuam um significado, mas porque tudo tem que ter um significado? Para mim era algo diferente que eu queria tentar, só que você não pode casualmente remover uma tatuagem (risos). Por isso que de alguma forma a tatuagem escolhida naquela época foi uma borboleta. Mas depois de um tempo eu passei a odiá-la e a cobri (risos). Eu acho que meu estilo atual e a tatuagem daquela época diferem muito.


- A Sezuki que te tatuou no passado, certo? E em relação às outras tatuagens, foi ela também?

Kyo - No inicio era a Sezuki que me tatuava mas depois foram diferentes artistas no exterior ou conhecidos de Osaka e etc. Eu fiz uma tatuagem no pescoço no exterior, no entanto, ela foi feita apenas 5 minutos após eu ter feito um show (Risos). Durante essa turnê, se eu ouvisse falar de um bom tatuador sendo comentado por pessoas de outras bandas ou conhecidos, eu ligava para eles. Quando o show terminou eu estava no camarim e em breve teríamos que seguir para local do próximo show, sendo assim eu tive que fazer a tatuagem enquanto ainda estava pingando de suor (Risos).

É por isso que eu não posso dizer que todas as minhas tatuagens têm um significado. Mas a tatuagem das minhas costas carrega um significado, eu disse a Sezuki que queria tatuar um Deus. Eu já tenho uma fênix e um dragão, as duas maiores criaturas vivas tatuadas em meus braços. Se eu não tivesse algo maior (em tamanho e significado) nas minhas costas para mim não estaria equilibrado. Quando estávamos falando que eu queria um Deus, eu comentei o quanto eu adorava o Senju Kannon do templo Sanjusangendo em Kyoto, então nós escolhemos o Senju Kannon. "Esse é legal, vamos fazê-lo", simples assim.


- Quantos anos demorou para ela ficar pronta? Em 2011 por volta da segunda metade do ano do nada eu percebi que a tatuagem estava lá, eu fiquei bastante surpreso.

Kyo - Demorou sete meses, a Sezuki disse que foi o tempo mais curto para uma tatuagem desse tipo (Risos). Nós não conseguimos termina-la antes da turnê, então assim como um colegial eu todos os dias, pontualmente encontrava com a Sezuki em seu estúdio. No geral as sessões demoravam de 3 a 4 horas por dia, mas ainda assim não conseguiríamos terminar a tempo, então as últimas duas sessões em 2 dias consecutivos demoraram 7-8 horas. Em muitos sentidos, eu estava caindo de sono (risos). Sezuki disse que ela já tinha feito o Senju Kannon uma vez, mas depois de tatuar 6 ou 8 mãos, o cliente desistiu por causa da dor. No inicio a dor era muito intensa e eu pensei que não aguentaria, mas o Kannon que eu admiro é aquele de Kyoto: se todos desistissem por causa da dor não seria algo bom (o Kyo passou a ver a dor como um obstáculo que precisava ser vencido). Há também muitas pessoas (tatuadores) que não gostam do contorno, geralmente as pessoas não gostam de fazer uma imagem complicada e cheia de detalhes, tendo este tamanho e qualidade. Mas a Sezuki gosta bastante disso (Tatuar coisas complicadas e cheias de detalhes)(risos). Ela também gosta de obras de arte detalhadas por isso chegamos a um acordo.


- O comprimento também é muito bom, a escolha por fazer algo tão detalhado e com a qualidade tão boa parece ter sido a decisão certa a se tomar.

Kyo - Mesmo estando sentindo dor a conversa estava se expandindo. Embora eu tenha feito Senju Kannon nas minhas costas, a parte de cima parecia um tanto vazia/nua, mas fazer uma conexão envolvendo o Kannon não era possível. Como eu gosto muito da arte de Ito Jakuchu, eu perguntei se não seria possível acrescentar algo na parte de cima como parte da história. A Sezuki também gosta da arte de Ito Jakuchu, quando soube disso eu comecei a perguntar sobre algumas coisas e paramos para decidir sobre isso ou aquilo. E assim nós não paramos em minhas costas, continuamos até que a tatuagem alcançou a minha clavícula (risos). O branco é a cor mais dolorosa quando se colori uma tatuagem, mas nós decidimos que era legal e também porque eu gostei do branco. Tentamos fazê-lo em um lugar primeiro, era difícil obter a cor de uma forma que ficasse legal, por isso foi difícil. E o alcance da dor estava se espalhando gradualmente (risos). Então decidimos por fazer a nuvem e as pernas, e assim a nova imagem ficou maior. Era um mistério quando iria acabar. Principalmente quando começamos a usar a tinta branca e ela não ficava. Então tínhamos que refazer tudo novamente e isso aconteceu várias vezes.


- Com a dor que você sentiu e o aumento na quantidade de trabalho, psicologicamente falando, algo mudou para você?

Kyo - Bem, é claro que eu tenho um sentimento de realização (Risos). Eu comecei a sentir que eu não vou perder o espírito/coração para com as coisas. Mas eu não posso ver as minhas próprias costas e isso é muito triste. Para dizer a verdade eu gostaria de fazer mais tatuagens, mas Sezuki não está mais no Japão, ela se mudou para a Alemanha e eu não conheço ninguém com quem eu gostaria de fazer uma tatuagem além da Sezuki.


- Então, você gostaria de criar uma arte com a Sezuki cuja sensibilidade corresponda a sua?

Kyo - Isso mesmo. No fim das contas, não será bom se eu não criar algo novo. Eu já falei sobre isso. Eu só quero ser tatuado por alguém que eu goste, não importa o quão bom seja um tatuador se eu não for com a cara dessa pessoa, eu não vou fazer uma tatuagem com ela. Especialmente porque o que eu quero tatuar é um Deus japonês, minha própria arte (ou seja, um desenho criado por ele), então eu quero alguém que possa compreender completamente o significado e aquilo que eu quero.


- Quando eu vi o Senju Kannon nas suas costas durante o show, eu conectei a imagem com a letra de LOTUS "Intenção desenhada nas costas"

Kyo - Hm. Quando eu exponho a parte superior do meu corpo durante os shows as pessoas que veem as minhas costas devem pensar muitas coisas. Ao visualizar o Senju Kannon, mesmo que não seja algo forte, eu ficaria feliz se as pessoas sentissem algo. Eu penso dessa forma...


- Quando eu analiso o que você está dizendo, eu chego a conclusão de que tudo se torna uma auto expressão, certo?

Kyo - Há muitas coisas que para mim servem como auto expressão. Mas se eu não fizesse isso, se eu não me expressasse... eu sinto que morreria. Eu me expresso através da música, desenho ou fotografia. Acredito que se eu não fosse capaz de me expressar eu não teria valor algum.


- Foi você quem desenhou a arte da capa do single de "RINKAKU", correto?

Kyo - Em dezembro, quando nos fomos para os EUA, tivemos que esperar seis horas no aeroporto. Eu estava à procura de algo para passar o tempo então achei um lápis e um caderno na minha bolsa. Eu nunca tinha desenhado na minha vida, mas como eu não tinha nada para fazer eu resolvi tentar. Eu desenhei algo estranho, então eu tentei mais uma vez e novamente eu desenhei algo estranho. Quando a música de abertura começou a tocar e os outros membros subiram ao palco eu ainda estava desenhando no camarim. Por seis meses eu desenhei como um tolo, e a partir de então, de alguma forma uma maneira de me expressar além da música surgiu. Até mesmo agora eu não estudei técnicas de desenho e não aprendi nada técnico sobre isso, então eu desenho algumas coisas bastante estranhas, mas é melhor quando não há regras, certo? É algo natural.


Scans por buddycat2
Tradução para o inglês por Kyotaku
Tradução para o português por Uka no SABIR BRASIL

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