Eu sinto como se eu ainda não tivesse uma nova bússola em minhas mãos.
Então é claro que eu me sinto um pouco inseguro.
Mas, não é completamente escuro. Não tem como nós não irmos mais longe quando nós chegamos até aqui.
---Seja honesto comigo, como você se sentiu depois de dois dias de Budoukan?
Toshiya: Na verdade, quando estava tocando o vídeo clip (no telão) nós estávamos de pé na beira do palco prontos para voltar, considerando que podia haver outro encore. E eu meio que queria tocar mais (risos). Mas quando terminou de forma tão bonita, eu estava um pouco preocupado pensando "Acabou mesmo?". Nós não podíamos dizer de imediato. Quando tudo acabou, é claro que eu estava cansado, mas me senti tão completo, como se eu tivesse destruído aquilo completamente. Me senti muito bem. Ouvir toda a platéia cantando junto com a música também me fez me sentir muito bem. Eu não achei que iria acabar daquela forma. Nós nem sequer dissemos a eles para fazer aquilo. Eu acho que nós temos subestimado os fãs. Mas, aí novamente eu pensei "Vocês podem fazer isso se vocês tentarem!" (risos). Mas, honestamente, eu estava realmente emocionado!
---Você disse que sentiu como se tivesse "destruído" aquilo, que é uma explicação muito gráfica (risos), mas quando você diz isso, você quer dizer que você destruiu um monstro com o nome de "UROBOROS"?
Toshiya: Sim; isso pode não ter sido a melhor maneira de colocar isso (risos). Nós estavamos explicando que o "UROBOROS" era “algo que ligava o nosso passado e futuro”. Parecia que a corrente que prendia isso junto havia arrebentado naquele momento.
---Como uma corrente que te prendia e que havia se soltado?
Toshiya: Bem ... é difícil de explicar isso com palavras ... só parecia que algo havia estalado. Desde que nós escrevemos aquele álbum, eu sempre tive o pensamento de tentar absorver e digerir muitas coisas e tentar construir algo que nós tínhamos em mente, mas eu sinto como se eu tivesse sido libertado desse dilema inexplicável e estivesse em pé um lugar que as palavras não podem descrever. Eu sinto como se as coisas que não pareciam claras para mim tivessem se esclarecido depois do Budoukan. Até agora, nós dissemos um monte de coisas sobre como é a nossa perspectiva, mas isso ainda era algo que nós não conseguíamos explicar muito bem. Mas, no Budoukan, eu sinto como se nós tivéssemos sido capazes de imitá-la muito perto da imagem que nós tínhamos. Então eu senti como se eu tivesse adquirido tanto daquilo. Depois que terminou, eu olhei para todas as resenhas que os fãs fizeram e notei que ninguém realmente havia focado nas pequenas coisas. Havia muito mais "Foi tão incrível!". E eu acho que isso significa que as pessoas foram capazes de ver o Budokan da maneira como nos o vimos.
---Foi a mesma coisa no show do Osaka Castle Hall no aspecto de tentar mostrar a perspectiva, não é? Quando você pensa sobre isso agora, foi uma aventura. Você acha que poderia até ter sido possível fazer o que vocês fizeram no Budoukan no Osaka Castle Hall?
Toshiya: Não. E se você se colocar dessa maneira, sim, eu acho que foi uma espécie de aventura. Mas eu acho que nós fomos capazes de ir para Budoukan porque nós tivemos essa experiência. Porque naquele momento nós pensamos que não eram tão bons; porque nós pensamos que deveríamos ter feito mais coisas aqui e ali, nós fomos capazes de traçar os nossos ideais para o Budoukan. Então eu acho que foi um fracasso inevitável (risos). O engraçado é que nós nem sequer pensamos que poderíamos fazer algo perfeito naquele local. Mas é claro que havia imagens do que nós consideramos ser um sucesso.
---Então, num certo sentido, vocês só queriam construir a casca exterior da imagem do "UROBOROS"?
Toshiya: Basicamente, sim. Parece um enorme castelo, mas quando você olhar de perto, na verdade é só um quadro (risos). Mas nós sabíamos a partir daquele início que nós iríamos trabalhar no interior e, gradualmente, completá-lo. Nós finalmente fomos capazes de sentar e pensar "O que devemos fazer em seguida para ir em frente?" depois que fizemos o show no Osaka Castle Hall e um monte de turnês. E essa é uma opinião pessoal, mas eu me diverti bastante. O caminho de fazer o "UROBOROS" para Budoukan. E quando eu digo diversão, quero dizer que eu fui capaz de ter uma aventura.
---Então você realmente não tinha o pensamento de que "tinha de fazer aquilo" (como se fosse o trabalho dele)?
Toshiya: Yeah. Em cada turnê eu tive uma idéia do que eu queria fazer e fui capaz de experimentar as coisas constantemente. Eu fui capaz de experimentar muitas coisas novas, seja o meu jeito de tocar, o meu som, ou como eu me mostrei. Então eu acho que de certa forma as turnês que nós fizemos para o "UROBOROS" foram muito... experimentais.
---Pondo de uma maneira simples, existem muitas músicas que dão muito trabalho. Por exemplo, mesmo que alguém encontre uma resposta, ele não seria capaz de aplicá-la a cada música do "UROBOROS". Cada música exige algo diferente. Você não sentiu como se estivesse usando pesos muito sobrecarregados o tempo todo em que vocês estavam em turnê?
Toshiya: Sim. Mas essa foi a parte divertida. Era como se nós estivéssemos testando o quão longe nós podíamos ir usando limitações. Isso foi necessário para o "UROBOROS". Eu acho que a liberdade só existe porque existem limitações. Fazer o que você quiser em um lugar onde não há quaisquer limitações, para mim, não é liberdade.
---Então você está dizendo que ser egoísta e ser livre é diferente?
Toshiya: Sim. Eu acho que quando as pessoas estão amarradas a uma limitação, elas estão mais dispostas a desejar o que eles gostariam de fazer. Quando elas estão restritas a grilhões ou algemas elas são então capazes de perceber que tipo de liberdade que querem. Então, de volta para nós, nós estávamos trancados em uma gaiola chamada "UROBOROS" e então nos perguntamos "Como é que podemos nos divertir aqui?". Eu pensei assim. E a liberdade que eu desejava mudou conforme nós fazíamos shows dia após dia e isso mudou os padrões do meu pensamento. Mas eu acho que eu estava constantemente pensando comigo mesmo "Como eu iria abordar isso sob esse tipo de circunstância," seja isso a respeito do meu estilo de tocar ou a minha maneira de expressar as coisas.
---Se você olha para cada integrante, o palco é completamente diferente. Mas tão diversos como ele é, ele combina muito bem.
Toshiya: Bem, nós somos uma banda então... Eu não sei como colocar isso. Acho que é porque nós passamos por tantas coisas juntos. Eu realmente fui ajudado pelos outros membros me apoiando ao longo do caminho e eu quero ser uma pessoa que será capaz de fazer o mesmo por eles. Acho que nós temos que continuar a ser influências um para o outro.
---Por exemplo, vocês não se sentam e dizem uns aos outros "Já que desta vez nós fizemos esse tipo de álbum, todos nós devemos ser assim"?
Toshiya: Não, não. É por isso que todos devem usar o que querem e agir da maneira que querem. Todos nós temos nossas próprias intenções e porque somos nós cinco, nós fazemos o DIR EN GREY.
---Eu acho que as roupas seriam um bom exemplo para falar a respeito. Por exemplo, vocês alguma vez pensam "Oh, ele vai vestir aquilo então..."?
Toshiya: Não. Nós nunca pensamos sobre os outros membros (risos). Bem, pelo menos eu não. Nós nunca vamos usar coisas parecidas de qualquer forma.
---Dizer "nunca" é um pouco perigoso, não é?
Toshiya: Talvez, mas eu realmente não me importo. Bem, eu não acho que nós cinco usaríamos saias e até mesmo se isso viesse a acontecer eu acho que eu seria o primeiro a parar de usá-las (risos). Todos os anos, os meus pensamentos de que eu deveria fazer o que só eu posso realizar fica mais forte, incluindo coisas como a moda. É claro que como uma banda há coisas que eu não deveria fazer, mas dentro dessas limitações, eu me sinto livre. Eu só faço o que eu sinto vontade de fazer naquele exato momento.
---Coisas que você pode fazer e coisas que você quer fazer. Você provavelmente tinha mais coisas que queria fazer no passado?
Toshiya: Provavelmente. Mas... para ser honesto, conforme eu fico mais velho, eu acho que as coisas que eu imagino tornam-se mais e mais realistas. Eu sinto que o limite daquilo que eu sou capaz de imaginar está ficando mais restrito porque eu estou aprendendo mais. Bem, eu acho que isso significa que eu sou capaz de entender as coisas antes mesmo de imaginá-las. Mas, em conseqüência, eu tendo a dizer "Oh, eu não posso fazer isso", antes mesmo de tentar. Eu não acho que isso seja bom. Se eu pensar demais dessa forma eu não acho que vou ser capaz de pensar em coisas novas. Eu sinto como se as minhas idéias estivessem enfraquecendo. É claro que eu tentei não me empurrar na direção das conclusões precoces. Nos dias quando eu costumava por maquiagem em todo o meu rosto, eu acho que minha cabeça estava cheia de idéias. Eu estava tentando de maneira tão severa trazer as imagens para o mundo real. Mas agora, eu me tornei mais sofisticado. Sim, até eu me tornei sofisticado (risos). Alguém que vem fazendo algo tão chamativo se transformou em alguém tão normal conforme ele foi envelhecendo... é desse jeito que eu me sinto.
---Então você sente que não pode produzir todo o seu potencial?
Toshiya: Sim. E seria bom se terminasse aí, mas eu pensei "Isso provavelmente afetará as músicas e frases que eu escrevo". Se eu pensar nisso dessa forma... Eu acho que eu estava tentando interferir no ciclo infinito com o nome de "UROBOROS" com as minhas próprias mãos. Assim dessa forma, eu tinha várias coisas na minha mente. É por isso que eu penso que este ano foi tão divertido. E, felizmente, nós somos capazes de tocar em muitos lugares diferentes e somos capazes de assistir aos shows das bandas que nós gostamos há muito tempo. É claro que é inspirador, mas ao mesmo tempo, o meu pensamento de que "Nós temos que ir para outro lugar" fica mais forte. Eu não acho que deveria acabar como "É uma honra" ou "Eu estou tão feliz".
---Um exemplo seria Duff McKagan. Há um tempo atrás, aconteceu que vocês ficaram no mesmo hotel e vocês beberam com ele. Naquele momento, os seus sentimentos honestos foram "Eu estou tão feliz em conhecê-lo". Mas avance alguns anos para o DOWNLOAD e alguns festivais no Brasil no último ano. Vocês compartilharam os palcos, mas os shows dele foram muito mais cedo do que os de vocês.
Toshiya: Sim. E é claro que eu não pensei que éramos “melhores” do que ele. Mas não há dúvidas de que estávamos em pé no mesmo solo. É como se nós esticássemos os braços, ele estaria ao nosso alcance. Quando eu percebi isso, eu pensei que se eu pensasse como eu costumava pensar eu estava acabado. Quando as pessoas que você costumava admirar estão onde você está, é quando você tem que perceber que você tem que melhorar.
---Eu acho que a maneira com a qual vocês abordam as coisas no exterior é como encarar uma encruzilhada, e escolher um caminho.
Toshiya: Sim. Eu lembro de pensar "Eu estou tão feliz de estar tocando neste festival" não faz muito tempo e pensei se eu simplesmente pudesse investigar as perspectivas dos outros. É claro que eu ainda acho agora que é uma grande honra tocar nesses tipos de lugares. Mas é um pouco diferente. Nós temos que lutar. Nós temos que derrotar tantos rivais. Mesmo que seja um solo completamente estrangeiro, nós temos que abordá-lo como uma "experiência". Como resultado, eu comecei a pensar que não resta muito tempo afinal.
---O tempo que resta para vocês não é ilimitado?
Toshiya: Yeah. Eu não posso mais me dar ao luxo de abordar as coisas nesta mentalidade. Eu tenho que considerar isso o tempo todo. Eu tenho que me sentir em perigo. Caso contrário, eu não acho que restará alguma coisa não importa o que eu faça. Só vai terminar com um "Isso foi divertido". Isso é apenas uma “memória da jornada". Para ser honesto, eu estou com pressa. Mesmo que haja um limite para o tempo, eu ainda tenho muitas coisas que eu quero fazer. Eu sei que esta banda ainda tem o potencial de se tornar mais interessante e estou me divertindo com ela.
---De certa maneira, vocês são seus próprios produtores, brincando com o Dir en grey, de uma boa maneira.
Toshiya: Sim. É por isso que todos nós pensamos mais sobre como apresentar as coisas como uma banda ao invés de pensar em como cada um de nós aparece na banda. Eu gostaria que nós tivéssemos outro conjunto de olhos para que nós pudéssemos nos ver na perspectiva em terceira pessoa. Mas obviamente isso é impossível.
---Digamos que você seja capaz de fazer isso, como você acha que você se sentiria?
Toshiya: Eu pensaria que nós somos a banda mais legal do momento (risos). Mesmo nos comparando com outras bandas, acho que esta banda tem feito as coisas mais legais, ou eu devo dizer que eu posso ficar muito orgulhoso delas. Isso é porque nós esperávamos que fosse assim. É claro que "a grama é mais verde do outro lado", mas eu não quero pensar que isso é algo que nós nunca podemos realizar. Eu só acho que "Se nós podemos fazer isso, nós vamos fazer isso melhor". Talvez eu não devesse nos elogiar demais (risos). Mas não se esqueça que, ao mesmo tempo, nós nos sentimos ameaçados. Mas aí, então, em algum lugar dentro de nós, nós vagamente pensamos que nós sabemos que podemos fazer isso. Não é como se isso fosse telepatia ou algo assim. É que todos nós simplesmente temos a mentalidade de que se nós desistirmos antes mesmo de começar, nós nunca vamos ser capazes de realizar coisas que nós seríamos capazes de fazer.
---Então, agora, vocês conseguem ver onde vocês estão indo?
Toshiya: Bem, não é como se nós tivéssemos uma planta do nosso próximo álbum e sinto como se eu não tivesse uma nova bússola para me guiar ainda. "Hageshisa..." pode ser um passo depois de superar o "UROBOROS" e nós não achamos que isso seja tudo. É por isso que estamos preocupados, sem dúvida. Mas nós estamos sempre preocupados com alguma coisa e a esperança vem logo atrás disso. Não tem como nós não irmos mais longe quando nós chegamos até aqui. Não é como se nós não estivéssemos preocupados com nada, mas não é completamente escuro.
---Por que você acha que enxerga isso dessa forma?
Toshiya: Isso deve ser porque eu não estou sozinho. Eu acho que essa é a razão: porque nós superamos tantas coisas juntos. E não somos somente nós cinco. Nós temos sido apoiados pelos staffs e mais importante, pelos nossos fãs. Eu acho que nós desvendamos completamente o que batalhamos com o "UROBOROS" e começamos tudo de novo completamente nus, tentando assumir algo novo. É por isso que o medo e o desconforto é uma coisa normal. Mas eu não estou sozinho. Contudo se eu estivesse sozinho, eu não teria nenhuma idéia do que eu faria.
Traduzidas para o inglês por Kzaemonn na comunidade diru_tabloids
Traduzido para o português por imago no SABIR BR
Scans por elloran no visible_things
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