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GiGS: Entrevista com Kaoru (No.319, abril 2010)






Ele nos diz tudo a respeito dos dois dias nos bastidores do Budokan e sobre o que vem a seguir!


Os dois dias no Nippon Budokan foram realizados em 09/01 e 10/01 como uma conclusão para o álbum "UROBOROS". Essa foi uma performance chocante, onde a energia intensa atacou a visão, audição, olfato, e até mesmo o paladar e o tato do público. E a estrutura foi bem planejada de maneira que não desperdiçou qualquer minuto, desde a montagem do palco até o set list para os dois dias, e o conteúdo que nos permitiu manter o nervosismo e a excitação constantemente. O que eles sentiram no palco e o que eles queriam expressar? E qual o destino deles? Eu perguntei ao Kaoru.

Texto: YUKINOBU HASEGAWA; Foto: Takayuki Mishima



Quando fizemos o show no Osaka-jo Hall, já tínhamos reservado o Budokan.



—— O tema desta conversa será sobre o show no Budokan, mas antes disso, o final de 2008 começou com a turnê "UROBOROS –breathing-" no Osaka-jo Hall, certo? Vocês planejaram desde o início como vocês queriam terminar (uma turnê) novamente em uma casa de show grande?

Kaoru: Sim. Simplificando, eu queria montar um palco no qual muitas pessoas poderiam nos ver. Eu fui capaz de ter uma visão maravilhosa no Osaka-jo Hall, assim como eu fui capaz de enxergar o que eu queria fazer.


—— Foi a particularidade da obra "UROBOROS" que te fez pensar assim?

Kaoru: Talvez, mas havia um forte sentimento da banda sobre querer fazer esse tipo de show.


—— Eu pareço entender isso egoisticamente, como uma grande mudança. A razão é porque há alguns anos alguns membros não sentiam qualquer atração em fazer shows em grandes casas de shows.

Kaoru: Bem, isso é verdade. Mas para ser honesto, no momento em que fizemos o show no Osaka-jo Hall, já tínhamos reservado o Budokan (risos). Nós conversamos sobre fazer o primeiro e o último show em um local grande. Houve até mesmo uma conversa sobre fazê-lo no Osaka-jo Hall novamente. Havia uma idéia de que se nós fizéssemos o último show no mesmo local que o primeiro fazia mais sentido. Mas, houve um sentimento de "Então, o que é o Budokan (risos)?". Então nós decidimos encerrar no Budokan.


—— Antes do show do Budokan, houve um show exclusivo para o fã-clube em Tóquio, Nagoya e Osaka. Houve algum significado nestes shows para o Budokan?

Kaoru: Não, eles foram separados (no significado). Naturalmente, o ensaio para o Budokan já havia começado aquela altura.


—— No show exclusivo para o fã-clube, foi a primeira vez que vocês tocaram "Hageshisa to, kono mune no naka de karamitsuita shakunetsu no yami" e "Zan". O primeiro dia no Shinkiba Studio Coast começou imediatamente com o "Zan" (risos).

Kaoru: Quando você realiza tantos shows assim é problemático decidir sobre a primeira música para o show. Houve algumas músicas inesperadas entre as indicadas, contudo nós nos perguntamos se aquela, Zan, era realmente boa. Então, nós ficamos assim "Por que não tocá-la imediatamente no início (risos)?". A primeira música naturalmente foi a "Zan". Achamos que causaria mais impacto.


—— A reação dos fãs começou no auge.

Kaoru: Sim (risos). Foi bom como eu consegui ver a reação dos fãs. Em "Hageshisa to, kono mune no naka de karamitsuita shakunetsu no yami" houve uma emoção, como se fosse uma música assinatura1, então eu senti que tinha uma confiança muito grande para tocá-la no Budokan. Não houve o sentimento de "Nós vamos tocar uma música nova". Nesse sentido, esses shows podem ter significado algo para o Budokan.


—— Após este show, houve um membro que não estava nervoso. Mas à medida que o show no Budokan estava se aproximando em poucos dias, vários sentimentos devem ter surgido.

Kaoru: Eu, na verdade, não me senti muito assim. Toquei como se fosse um show normal. Se você pensar de forma muito elaborada, o resultado será ruim. Uma vez que há um elemento de palco, nós precisamos decidir claramente sobre a ordem das músicas, e em relação aos ensaios, eu só fico preocupado se vai dar tudo certo com a mudança de guitarra. O primeiro dia não foi como o Osaka-jo Hall, mas eu estava nervoso até certo ponto. Eu não estava nervoso de forma alguma no segundo dia. Acho que eu fui capaz de tocar no palco naturalmente de uma condição bastante plana. Não existiu esse sentimento de "Eu preciso fazer alguma coisa por eles, os fãs". Eu fui capaz de seguir com o show naturalmente, portanto eu me senti bem.


—— Isso é a respeito do primeiro dia de Budokan, mas eu senti como se vocês tivessem seguido o setlist do Osaka-jo Hall.

Kaoru: Ao invés de pensar no Osaka-jo Hall, colocamos o setlist típico da turnê do "UROBOROS". Foi muito simples, mas pensamos em um setlist que daria, pelo menos, uma conclusão ao primeiro dia. Pelo contrário, no segundo dia nós estávamos apenas tocando e experimentando uma sensação diferente. Nós decidimos primeiramente sobre o setlist para os dois dias no Budokan por volta do final do verão. Naquele momento, já estava decidido que o primeiro dia iniciaria com "VINUSHKA" e o segundo dia terminaria com "VINUSHKA".


—— Vocês estavam cientes sobre a regeneração, que é o significado da palavra "UROBOROS"?

Kaoru: Eu tinha isso em mente e também existia uma parte em que eu queria expô-la. Pensei que se nos iríamos fazê-la, então a ocasião deveria ser na última turnê. Como havia dois dias, a ordem das músicas também seria fácil de entender. Mesmo em relação a performance, decidimos as coisas claramente para o primeiro dia, mas no segundo dia, havia esse clima de tentar finalizá-lo enquanto nós estávamos procurando.


—— As imagens visuais dos telões no dia primeiro tiveram um impacto. Houve muitas cenas fortes e que me fizeram pensar na relação entre o envolvimento das imagens e das músicas. Havia um sentimento de estar começando algo quando este show deveria ser um show para finalizar as coisas.

Kaoru: Sim, isso é verdade. A última turnê terminou, mas nós vamos continuar a tocar estas músicas e ainda existem várias maneiras de tocá-las. Contudo, uma vez que o impacto das imagens era forte, se nós não tivéssemos cuidado, acho que a apresentação poderia ter sido entendida como se nós estivéssemos passando uma mensagem errada. Em relação as pessoas que viram o nosso show pela primeira vez, ou em relação as pessoas de outros países, elas podem pensar que nós só estamos olhando para os japoneses. Porém existem coisas que puderam ser ditas porque nós somos japoneses. Em vez de evitar as partes que lhes machuca ou as partes nas quais vocês provocam a dor, acho que o "UROBOROS" teve um tema que as capturou com firmeza e seguiu adiante.


—— É verdade, pois o jeito que você as compreenderão será diferente se você assisti-las pensando no que está por trás da foto, em vez do elemento externo da filmagem.

Kaoru: Sim, isso mesmo. Houve um grande número de estrangeiros que foram nos assistir, mas quando ouvi as suas opiniões, eles não tinham qualquer sentimento ou opinião ruim. Houve um impacto forte especialmente em relação as imagens que nós exibimos durante "VINUSHKA", por isso eu estava preocupado. Mas eu pensei que se havia alguma coisa a ser transmitida, então deveríamos ir em frente com ela.


—— Aí então, eu pensei que as imagens não existiam como um efeito especial e que ao invés disso, elas estavam vinculadas com as músicas. Aquelas imagens também se transformaram em uma música.

Kaoru: Muito obrigado. Nós conversamos com o diretor que sempre faz as filmagens e, por exemplo, "Isto não tem a nossa atmosfera, então vamos parar", ou "Por favor, elimine as coisas que são diferentes do que nós temos em nossas mentes".


—— Mas no dia primeiro, eu fiquei mais emocionado durante o encore. O telão mostrava os membros tocando, e no palco, havia, naturalmente, apenas os 5 membros. O DIR EN GREY simples é aquele mais legal.

Kaoru: Obrigado (risos). Nesses momentos você pode ver uma parte verdadeira, ou melhor, eu pensei que foi bom como nós fomos capazes de fazer essas coisa estando em um lugar firme. Somos capazes de tocar sem ter uma superficialidade estranha.


—— Quando vi a performance, cheguei ao ponto em que me esqueci dos impactos das outras imagens.

Kaoru: Sim, ter nós cinco como a melhor parte significa uma boa direção. É uma coisa boa.


—— Vocês nos deixaram muito emocionados, e fizeram isso de novo no segundo dia. Parecia uma continuação do primeiro dia. Uma banda exposta estava no palco.

Kaoru: Depois que a noite anterior terminou do jeito que foi, o segundo dia começou. Nós estávamos pensando sobre aquela parte. É por isso que não houve nenhum música de abertura (SE), assim nós começamos imediatamente. Nós pensamos que não teria problema se nós entrássemos no palco que nem sequer tinha cortinas.


—— Bem, eu até mesmo senti como se vocês fossem uma banda que poderia fazer um show sem luz. Os membros tocam e o show funcionará se os sons e as palavras forem realizados.

Kaoru: Entendo. Eu acho que funciona para mim também se as luzes estiverem acesas na área de assento da platéia. O segundo dia pode ter terminado dessa forma (risos).




Se houvesse outro encore
Eu estava no clima de ir e fazê-lo também




—— No segundo dia, você disse que vocês colocaram elementos lúdicos, mas deixando de lado o quadro do "UROBOROS", você sentiu que vocês foram capazes de expressar francamente o que o DIR EN GREY atual anseia e sons que se encaixam?

Kaoru: Nós tínhamos esse sentimento definido de como nós começaríamos o show, mas depois, o groove seguiu como em um show normal, onde nós tocamos músicas diferentes na ordem do repertório. Houve uma maneira boa de demonstrar isso no primeiro dia, assim no segundo dia nós curtimos o show em si. Mas havia essa sensação de "Nós vamos decidir sobre o início e fim claramente". O único problema foi como a garganta do Kyo-kun parecia seca no primeiro dia, por isso incluímos "Ware, Yami Tote..." no início. As duas últimas músicas também foram muito cansativas para ele, mas ele estava dizendo que faltavam apenas aquelas para fechar o show.


—— Depois do show, ele estava falando como ele foi capaz de fazer vingança em relação ao Osaka-jo Hall e ao primeiro dia no Budokan.

Kaoru: Eu acho que todos os membros se sentiram assim. Não houve nada estranho que os influenciaram. Aquele tipo de atmosfera estava lá, até mesmo depois que o show havia acabado. No caminho para a festa depois do show, nós estávamos conversando no carro como fomos capazes de terminar os shows de uma maneira boa. De qualquer forma, só havia esse sentimento de que fomos capazes claramente de passar por isso.


—— No segundo dia, o humor alegre dos membros se destacou durante o show. Embora vocês tivessem subido no palco mantendo a calma, você acha que a sensação de finalização se intensificou durante o show?

Kaoru: Enquanto eu estava absorvido no show, eu nem estava consciente disso. Mas quando estávamos tocando “INCONVENIENT IDEAL” e “VINUSHKA” eu tive uma sensação de que "Ele (o UROBOROS) vai terminar aqui".


—— Isso foi solidão?

Kaoru: Isso também, mas eu decidi tocar colocando todo e qualquer sentimento. E no final de "VINUSHKA", durante o momento em que o som parou imediatamente, eu fiquei comovido. Apesar de ter a solidão do final daquele show, eu também tive essa sensação de "Sim, nós conseguimos".


—— Foi logo depois de "VINUSHKA", certo? O telão exibiu os créditos finais com toda a agenda da turnê e depois continuou com o clipe da música "Hageshisa to, Kono Mune No Nakade Karamitsuita Shakunetsu No Yami" na versão completa. Eu acho que vocês viram o telão e platéia de perto; vocês devem ter tido algo para saborear, não é mesmo? Durante aquele um ano, vocês realmente foram para vários lugares.

Kaoru: Pelo contrário, eu senti solidão em como tudo isso estava acabando. Foi algo gratificante... começando com o Osaka-jo Hall, um ano de turnê, e também com aqueles dois dias... Havia a excitação depois que o show terminou, e uma solidão estava se estabelecendo simultaneamente. E você sabe que a platéia cantou junto durante o refrão (do clipe) de “Hageshisa to, Kono Mune No Nakade Karamitsuita Shakunetsu No Yami”, certo? Aquilo foi ótimo. Todos os membros estavam lá. Se houvesse outra chamada para o encore, nós estávamos no clima de fazê-lo novamente (risos). No entanto, eu acho que foi algo bom a forma como nós fomos capazes de finalizar os shows corretamente. Isso se concretizou de imediato. Após o clipe da música eu acho que o público sentiu que eles queriam ver o DIR EN GREY novamente.


—— Seja qual for o caso, eu gostaria de ver vocês tocando de novo agora mesmo.

Kaoru: Ah, sério (risos)? Mas foi bom. Posso estar dizendo uma coisa rude quando eu digo que no passado eu não tinha nenhum sentimento em relação ao Budokan...


—— Na verdade, você diz isso freqüentemente (risos).

Kaoru: Falando nisso, essa foi a quarta vez no Budokan e sexta vez naquele palco (final) e desta vez eu fui capaz de colocar os meus sentimentos na apresentação. Senti que fui capaz de ver a parte boa em se fazer um show no Budokan. Eu também senti que haverá um público maior que vai querer ver o DIR EN GREY no Budokan novamente.


—— Cada pessoa se sente de forma diferente em relação ao show, mas uma coisa que todo mundo deve ter pensado foi como o DIR EN GREY foi incrível.

Kaoru: Fico contente (risos). Eu até pensei que foi incrível. Também houve o sentimento de como eu comecei a ver a parte boa de continuar os shows que temos feito até agora. Naquele ponto, nós não queríamos trair aqueles que gostam de nós, mas de uma maneira boa nós os traímos, e eu estou pensando que nós devemos continuar a fazer isso. Para ser capaz de dizer com confiança: "Eu amo o DIR EN GREY". Eu quero ser assim.


—— A propósito, você estava usando uma guitarra nova no Budokan, não é?

Kaoru: Foi uma guitarra usada em "Hageshisa to, Kono Mune No Nakade Karamitsuita Shakunetsu No Yami" e "Zan". Eu a tenho usado desde os shows exclusivos para o fã-clube no final do ano. A corda C é 3 oitavas mais grave e coloquei um encordoamento de .060, mas a escala não é super-longa (666 milímetros). Além disso, o corpo tem lamé2 assim você pode ver claramente a caveira. Além desta guitarra, eu tenho três outras sob encomenda. Tem uma que usa 3 oitavas abaixo na afinação, as outras duas tem o mesmo formato que a principal, mas o acabamento é completamente diferente.


—— E enquanto aos amplificadores e pedais?

Kaoru: Desde o Osaka-jo Hall até a turnê nos EUA em novembro, a fim de facilitar as coisas no exterior eu produzi alguns sons usando a pedaleira de multi efeitos LINE6 POD X3 Live. Mas, a partir do final do ano, voltei a usar a TC2290 da T.C. Electronic para o delay. Eu pensei "É diferente, afinal". Além disso, eu adiciono o Small Clone3, que é modificado com o refrão. Vou pensar um pouco sobre os meus pedais.


—— A sua distorção ficou mais “tight”4.

Kaoru: Certo, certo. Eu a reproduzo em um canal limpo assim o grave não provoca delay e surge como uma faísca. Além disso, quando fomos para a América do Sul, trouxe um amplificador cabeça da Diezel, mas a caixa foi da Marshall que foi adquirida localmente, a qual eu usei para tocar o som. Eu pensei, "A Marshall é boa afinal (risos)". Para o "UROBOROS", assim como para "Hageshisa to, Kono Mune No Nakade Karamitsuita Shakunetsu No Yami" nós produzimos sons a partir de uma caixa vintage da Marshall na gravação. Eu também usei o som de baixa variação da Diezel, mas usamos principalmente a Marshall. Em relação ao sistema, eu gostaria de procurar por aí enquanto testo várias coisas.


—— Você está dizendo isso, mas você já começou a se mover em direção ao próximo destino?

Kaoru: Eu tenho composto músicas há algum tempo. Na verdade, também existem músicas que estão prontas para serem gravadas. Há músicas que são ferozes demais e músicas que vão deixá-lo confuso sobre se aquilo é o DIR EN GREY, do tipo "Vocês vão fazer essa música?". Vamos assumir o controle das partes boas que alcançamos no "UROBOROS", mas eu acho que haverá uma mudança drástica em algumas partes. Entretanto, eu acho que isso é o que você chama de um “aroma distinto”, porém eu quero manter a parte que é o DIR EN GREY... Bem, naturalmente acaba dessa forma. Neste momento, eu quero fazer várias coisas sem pensar em coisas desnecessárias. "O que nós queremos fazer a seguir?". Nós começamos a nossa jornada para nos encontrar novamente. Acho que vamos com calma em contraste com o ano passado e dois anos atrás. Claro que não seremos preguiçosos, mas acho que vai demorar um tempo até que o próximo álbum. Nós ainda não decidimos sobre qualquer agenda a partir deste momento, mas, bem, é possível pensar que faremos um show, de repente (risos).





Notas da tradução para o português:

1 Música assinatura – Uma música pela qual um artista é conhecido popurlamente.
2 Lamé - Um material muito usado em roupas devido a sua qualidade metalica que reluz. 
3 Small Clone - É um clássico pedal de flutuação de freqüência popularizado por Kurt Cobain. Fonte
4 Distorção "tight" – Tipo de distorção comum em bandas de metal que é perfeito para um estilo agressivo. Fonte





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