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Entrevista com Kyo na Cinra.net (Setembro, 2015)



Kyo (DIR EN GREY / sukekiyo) fala sobre trauma e renascimento

Entrevista e texto: Watanabe Yuuya - Fotos: Toshima Nozomi - (08/09/2015)


Kyo do DIR EN GREY / sukekiyo foi capaz de publicar um livro de poesia depois de aproximadamente 11 anos. São cerca de 18 anos, se contarmos desde o início do DIR EN GREY. Kyo escolheu minunciosamente obras escritas dentro deste prazo e também escreveu 14 poemas para o livro, "Gasou no shi". Obviamente este é um trabalho que atinge o núcleo do letrista - Kyo, o seu senso de beleza aguçado e desejo de criar aparece até mesmo nos pequenos detalhes da encadernação. Este livro é uma criação completa.

Em função desse lançamento uma exposição solo intitulada "Gasou" foi realizada na segunda quinzena de agosto. Obviamente, poemas do livro estavam à mostra assim como várias produções e até mesmo uma criação surpresa do seu próximo projeto - tudo isso acabou criando um conteúdo extremamente rico. Fomos capazes de materializar de diversas maneiras a cosmovisão que existe na mente do Kyo, foi um espaço muito estimulante.

"Estou constantemente perdendo o interesse no meu 'eu' passado". Disse Kyo, que iniciou suas atividades com o sukekiyo. Kyo, quem lançou o "Gasou no shi" - o que ele está pensando agora? Nós conversamos com o Kyo, a fim de abordar novamente a fonte dessa criatividade sem fim.



A imagem que nasce de um poema ou foto não é muito ampla? Então, se eu tentar propositalmente fazer com a moldura seja estreita isso quer dizer que o mundo que está espalhado na minha mente pode ser transmitido de uma forma mais direta.


― Em primeiro lugar, deixe-me lhe perguntar sobre o título deste lançamento: "Gasou no shi" (pt. Canções do meu funeral). Em entrevistas antigas você disse que "quando você parar de escrever letras será porque você terá perdido suas próprias mãos". Eu estava pensando se esse título também não inclui o significado de "enterrar o seu próprio 'eu' passado".

Kyo: As coisas incluídas neste livro são definitivamente todas trabalhos do passado. Mas, o meu "eu" que existiu naquela época aparece por vezes nas letras que escrevi no passado. Com este trabalho eu pensei que seria bom se essas palavras pudessem morrer em paz por isso eu decidi usar um título como esse. Isto não se limita apenas aos poemas, tudo que está incluído é assim. No final, eu tenho que continuar seguindo em frente.


― Sobre os poemas incluídos, com que critérios eles foram escolhidos? Muito provavelmente você teve que escolher entre uma quantidade muito substancial.

Kyo: Desta vez eu também selecionei alguns poemas que foram incluídos no livro de poemas que eu havía lançado antes, mas em relação aos critérios, eu simplesmente pensei naqueles que o meu "eu" de agora sentiria empatia ou tivesse uma sensação de completude, coisas do tipo. Além disso, eu também estava pensando na exposição, então eu escolhi obras que não estavam desconectadas da cosmovisão desta exposição. Ao fazer isso eu acabei escolhendo duas vezes mais a quantidade que eu deveria escolher....



― O livro que foi publicado agora é o primeiro volume, certo? Em outras palavras, existe um segundo volume planejado.

Kyo: Na verdade, quando eu vi a espessura desse primeiro volume eu estava planejando acabar aí (risos). Estávamos fazendo os preparativos para ele há um tempo, mas o design não foi concluído no prazo... Você pode não perceber ao olhar de relance para esse livro de poemas, mas em algumas partes até mesmo a tinta e o tipo de papel são diferentes. Eu o fiz de tal forma que você pode apreciar os pequenos detalhes até mesmo ao segurá-lo em suas mãos.


― Ele foi realmente muito elaborado.

Kyo: É um livro muito grosso, então eu queria fazê-lo de tal forma que os leitores não ficassem entediados ao lê-lo interruptamente. No entanto, essa profundidade está na primeira edição, no futuro eu quero lançar um livro que será publicado simplesmente com poesia.


― Entendo. Então deixe-me lhe perguntar sobre a exposição "Gasou", realizada juntamente com o lançamento do livro de poemas (ou seja na GALLERY LE DECO em Shibuya entre os dias 19 e 23 de agosto de 2015). A produção do espaço foi construída a partir de que imagem?

Kyo: Por exemplo, quando você vai a uma exposição de pinturas a apreciação daquelas pinturas se tornará a principal atividade. Você sente algo enquanto vê as imagens em exposição. É claro que não há nada de errado com isso, mas eu também estava pensando nas pessoas que não são desse jeito e que mesmo que elas participem do evento não sentirão nada". Assim, desta vez a exposição não é apenas uma coisa para se ver, eu fiz de tal forma que as pessoas que participarem serão afetadas.


― Então os itens que estavam em exibição em todo o local tinham esse tipo de objetivo.

Kyo: Sim. A imagem que nasce de um poema ou foto não é muito ampla? Os sentimentos que serão despertados por ela será diferente dependendo da pessoa. É por isso que eu tento fazer a moldura de forma mais estreita de propósito. Graças a isso, o mundo que está espalhado na minha mente pode ser transmitido de uma forma mais direta. Então, o que me veio à mente foram esses pequenos itens.


O DIR EN GREY é uma banda onde as opiniões de todos os integrantes se misturam para criar uma forma final, por isso no final é difícil lançar algo que terá tanta pureza individual como aquela que aparece em "PERSUASIO".


― Então, agora vamos falar sobre os itens da exposição um por um. Primeiro, havia um fone de ouvido através do qual era possível ouvir a gravação da sua voz lendo um poema em uma pequena sala de leitura. Um molde de mãos em tamanho real estava conectado em ambos os lados do fone. Além disso, também havia um molde de gesso de pés sozinhos no meio de um quarto.

Kyo: Eles foram feitos no formato das minhas próprias mãos e pés. Obviamente, isso também foi algo que eu pensei em fazer o mais próximo possível da minha própria cosmovisão. Eu pensei que seria bastante assustador se as minhas mãos estivessem na cabeça de alguém enquanto essa pessoa ouvia a gravação (risos). Só a sala de leitura em si foi feita para ser terrivelmente cruel.


― Eu só percebi esse espaço quando fui guiado para lá pelo membro da equipe. Falando nisso, provavelmente, a maioria dos visitantes também não o perceberam (risos).

Kyo: Eu fiz com que a entrada fosse bem menor, pois eu queria que só as pessoas que o tivesse notado escutassem a gravação. Se eu não tivesse feito isso haveria muitas pessoas que gostariam de entrar mas não poderiam. Mesmo assim nós mudamos o tempo da gravação para um tempo muito mais curto do que o previsto inicialmente e o elaboramos tanto quanto possível.


― Então você fez com que este quarto fosse difícil de encontrar em consideração aos visitantes. Além disso, havia um cheiro levemente doce pairando em torno do local. Isso também foi algo preparado por você?

Kyo: Originalmente, eu não sei muito sobre fragrâncias, mas para dizer a verdade eu estava pensando sobre isso já há algum tempo.


― Você pode elaborar?

Kyo: Muitas vezes quando você anda na rua você tem uma sensação de "Ah? Eu conheço esse cheiro". Eu pensei que seria bom se as pessoas também pudessem experimentar isso durante os nossos shows. Um sentimento de "o show do sukekiyo sempre cheira assim". Até agora eu não tive a oportunidade de fazer uma fragrância para isso.


― A fragrância em si também foi produzida por você, entendo. Em seguida, se posso dizer assim, a performance do Banyu Inryoku (uma trupe de teatro experimental que assumiu o lugar da trupe Tenjo Sajiki liderada por Shuuji Teriyama) tornou-se a atração principal. Eles já tinham se apresentado com você durante os shows do sukekiyo.

Kyo: É verdade. Como eu acho que eles são pessoas que "expressam os pensamentos reais dos seres humanos", desta vez eles puderam expressar livremente a atmosfera daquele lugar ou o fluxo ao escutar a minha própria poesia. Eu queria que as pessoas que tivessem ido para a exposição sentissem as coisas que estão emaranhadas no meu cérebro, então eu acho que o Banyu Inryoku conseguiu transmitir isso de uma forma mais compreensível.


― Entendo. Esta exposição não foi composta apenas por esses elementos, havia alguns itens que implicavam novas atividades.

Kyo: Você está falando da "flexus"?


― Isso mesmo. Juntamente com uma placa de identificação dizendo "flexus" havia 2 manequins em exposição trajando roupas pretas. Será que isso significa que você quer começar a produzir roupas?

Kyo: Sim. Eu quero criar roupas casuais que eu poderia usar todos os dias da mesma forma que nos shows. No entanto, não seria algo como as lojas normais que lançam uma linha nova a cada temporada, eu só faria isso quando eu realmente tivesse vontade. A fragrância que acabamos de falar, eu também quero lançá-la pela "flexus". A propósito, a essência se chama "elisabeth addict".


― Entendo. Isso também está ligado ao sukekiyo (pois existe uma música intitulada "elisabeth addict" no álbum "IMMORTALIS" do sukekiyo). Ter iniciado as atividades do sukekiyo automaticamente permitiu que você expandisse a maneira como você se expressa em suas letras, mas e agora? Por exemplo, existe um sentimento que surge durante uma performance do “PERSUASIO // 2015.2.28 sukekiyo 2015 live 「The Unified Field」 -VITIUM-” (daqui para frente referido como "PERSUASIO"), eu senti que o vídeo realmente focou fortemente nas letras.

Kyo: A sequência de vídeo para o "PERSUASIO" foi criada por Mika (baterista) do sukekiyo, mas ela ficou muito diferente de uma gravação de show normal, nós passamos uma quantidade considerável de tempo trabalhando nela até que estivesse concluída. O DIR EN GREY é uma banda onde as opiniões de todos os integrantes se misturam para criar uma forma final, por isso no final é difícil lançar algo que terá tanta pureza individual como aquela que aparece em "PERSUASIO".


― A propósito, "PERSUASIO" em latim significa "confiança/crença", certo? As músicas do sukekiyo também incluem violões, portanto eu queria saber se uma palavra chave para o sukekiyo não seria "Latino".

Kyo: Há várias pessoas no sukekiyo que gostam deste tipo de elemento étnico. A banda adquiriu essa forma quando nós estávamos à procura de um estilo de música onde é difícil distinguir gênero, um tipo de música que é mais apátrida.


Você não sabe quando o sentimento de querer fazer alguma coisa vai acabar, então eu quero realizar as coisas que idealizo o mais breve possível.


― Você não está apenas trabalhando com o DIR EN GREY e o sukekiyo no momento, também existe outros projetos, certo? Deve ser difícil encontrar algum tempo para descansar.

Kyo: Pode até ser, mas eu só faço as coisas que eu quero fazer eu mesmo. Eu faço as coisas muito rapidamente, então eu não preciso me preocupar com prazos e coisas do tipo.


― Então não há nada te incomodando realmente no momento?

Kyo: Não, basicamente tudo fora as coisas que eu realmente quero fazer são um saco (risos). Não é normal que existam coisas que nós não gostamos mas que temos que fazer? Como sair em uma turnê internacional de algumas semanas, isso é realmente difícil. Eu normalmente reclamo sobre isso (risos).


― (Risos) Há algo novo que você gostaria de começar a partir de agora? Você disse antes que gostaria de trabalhar com escultura.

Kyo: Eu não tive a oportunidade de experimentar isso até agora, mas estou interessado. Eu também... gostaria de tentar ter mais uma banda.


― Eh?! Além do DIR EN GREY e do sukekiyo?!

Kyo: Bem, obviamente isso parece fisicamente difícil e as pessoas ao meu redor também dizem “isso está indo longe demais”, então por enquanto eu estou tentando não pensar a respeito (risos). Ainda assim, se uma nova ideia me vier à mente e eu não puder fazer nada à respeito, eu definitivamente vou me arrepender depois. Além disso, ninguém sabe quando o sentimento de querer fazer alguma coisa vai acabar, certo? Existe uma possibilidade de que eu chegue na fase do “eu não quero fazer mais nada”, por isso, eu quero realizar as coisas que idealizo o mais breve possível enquanto a vontade de fazer alguma coisa ainda é forte.


― De qualquer forma, agora sabemos que ideia de ter 3 bandas não é impossível. Falando sobre bandas [secundárias], Die do DIR EN GREY (guitarrista), seguiu os seus passos e começou uma banda chamada DECAYS. Recentemente vocês se apresentaram juntos, qual a história por trás disso?

Kyo: Várias vezes eu ouvi o Die falando do DECAYS. Quando o assunto sobre procurar uma outra banda para se apresentar juntos surgiu eu ofereci "Vamos tocar juntos" (risos). Claro que nós ganhamos muita inspiração ao começar algo novo mas não é difícil? É por isso que eu tentei ajudar o Die pelo menos um pouco. Eu realmente acho incrível que os integrantes do DIR EN GREY possam tentar coisas diferentes desse tipo.


No final, é impossível produzir algo da mesma maneira que você havia imaginado. Como posso associar todo mundo com a cosmovisão que eu tenho dentro de mim? Mas não são apenas as pessoas que pensam tão longe que podem se aproximar daquele lugar onde serão chamados de artistas?


― Isso pode afetar positivamente o DIR EN GREY. Mesmo assim, de onde é que vem as suas ideias e desejo de criar? Eu acho que se aquilo que você expressa é tão grande, deve haver alguma inspiração envolvida também.

Kyo: Deixe-me pensar... Eu mesmo não sei de onde vem a inspiração. Ultimamente eu também não tenho assistido filmes... Mas, eu acho que nesta situação o jornal pode servir como o meu maior estímulo.


― Em outras palavras, eventos mundiais ou assuntos atuais?

Kyo: Isso. Pode ser uma colocação estranha, mas os jornais parecem ser os mais interessantes, basicamente, é porque eles falam sobre fatos, eu tenho essa maneira de pensar. Além disso, atualmente nos temos tanta informação, eu sempre quero acessar várias notícias. Bem, mesmo que eu entenda alguma coisa a partir da notícia, não é como se eu realmente fosse ao x do problema. Geralmente termina com um "Então coisas desse tipo são populares agora, hein".


― Então, existe alguma coisa que você esteja realmente interessado recentemente? Alguma coisa que venha à mente?

Kyo: Uhm... Pode ser algo bastante antigo, mas "Ataque dos Titãs - Shingeki no Kyojin". Também Alejandro Jodorowsky e assim por diante. Mas está tudo no passado. Eu não leio livros realmente... Muitas vezes me aconselham "você deveria ler este livro." Ouço isso de todos os lados, a minha única resposta é "com certeza, quando eu tiver algum tempo livre".


― Então você não está realmente interessado (risos).

Kyo: Isso também, mas eu também não quero ser influenciado. Especialmente quando se é jovem você tende a adicionar ao seu trabalho a influência dos seus artistas favoritos, certo? Para mim, isso se tornou um enorme trauma, o arrependimento quando eu olho para trás como um adulto para as coisas que fiz no passado. Claro que é possível criar algo incrível acrescentando influência a aquilo que você tem de original. No entanto, eu quero dar forma às coisas que nascem puramente 100% de mim.


― Para isso ela tem que estar em um estado "natural". Você também disse isso na última entrevista.

Kyo: Sim. Mas para continuar a me expressar com pureza, existem algumas coisas necessárias como pequenos ajustes ou algum esforço para ser compreendido. Na verdade, eu não estou realmente interessado em coisas que podem ser facilmente compreendidas pelos outros, mas sim em lançar as coisas como elas são, como eu as imaginei - isso é impossível no final. Como posso associar todo mundo com a cosmovisão que eu tenho dentro de mim? Mas não são apenas as pessoas que pensam tão longe que podem se aproximar daquele lugar onde serão chamados de artista?


Fim



Leia a entrevista original em japonês no Cinra.net
Tradução para o inglês por Kyotakumrau.tumblr.com
Tradução para o português por imago no Sabir Brasil

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